quinta-feira, 11 de maio de 2017

Como construir um texto dissertativo

Hoje em dia é muito importante fazer todo o preparo para o vestibular de forma a potencializar os estudos. Isso passa, invariavelmente, pelo estudo de como fazer uma redação dissertativa. Em sua formulação tradicional, o determinismo científico sustenta que o universo é como um relógio, movimentando-se de acordo com as leis da Física. Segundo essa crença, todos os eventos atuais e futuros seguem-se, por relação causal, de eventos prévios combinados com as leis naturais. Isso inclui o comportamento humano, a construção de conhecimento e as nossas tomadas de decisões.

Assim, se tivéssemos conhecimento preciso acerca das leis físicas e acesso a todas as informações disponíveis, poderíamos prever qualquer acontecimento, desde a extinção do Sol até o que nosso bisneto estará comendo no café da manhã em qualquer dia daqui a mais de cem anos, antes mesmo de ele existir e de poder escolher entre as opções disponíveis. Ele poderá pensar que escolhe por uma questão de saúde ou de gosto, mas tal sensação seria ilusória. Nas palavras do filósofo Espinosa (1632-1677): é como se uma pedra que está caindo pensasse que cai por livre-arbítrio, e não pela lei da gravidade.

Não se trata aqui apenas de um postulado teórico: muitos cientistas hoje desafiam nossas noções de liberdade de forma experimental. No campo da neurociência, há estudos em que os pesquisadores são capazes de, com base na leitura da atividade cerebral, prever ações pontuais dos sujeitos antes mesmo de estes tomarem consciência das suas decisões. Mas, se é assim, por que estamos tão certos do nosso poder de escolha? Parte do nosso cérebro seria responsável por criar contextos de situações e produzir relatos coerentes sobre o porquê das decisões tomadas, convencendo-nos que somos os donos delas. O intrigante é que tais explicações e tal consciência só se dariam depois de as decisões serem de fato tomadas, embora não possamos percebê-lo.



Outra área de estudos que desafia nossa noção de livre-arbítrio é a genética. Sabe-se que a informação genética presente nos indivíduos determina diversas de suas características, mas até que ponto isso vale para o nosso comportamento? Psicopatas ou pedófilos agem de acordo com determinados genes, ou seja, são condicionados por eles quando cometem crimes?

É claro que esse tipo de questionamento abala não só noções de senso comum, mas também as bases de nossas crenças morais e do nosso sistema jurídico. Consideramos correto que alguém seja preso porque cometeu um crime, porque acreditamos que tal pessoa foi responsável pelo seu ato. Tanto que problemas psiquiátricos podem eximir agressores de punições, pois, nesses casos, não se considera que eles eram donos de si mesmos ao agirem. Ora, se fazemos parte da natureza e nossos comportamentos são consequências causais e necessárias de eventos anteriores - o que é evidenciado pela neurociência e pela genética -, por que deveríamos ser julgados pelo que fazemos? Afinal, sequer poderíamos agir de outro modo.

Muitos estudiosos, contudo, criticam essa linha de raciocínio e suas conclusões a respeito do nosso cérebro e dos nossos genes. Na verdade, dizem eles, as decisões previstas experimentalmente são muito mais simples do que as complexas decisões morais que tomamos, por exemplo. Estas amariam em outro nível e, para compreendê-lo, seria útil considerarmos a hipótese do livre-arbítrio, separando ciência e moralidade - ainda que possamos de fato deixar de pensar em termos de uma separação entre cérebro e mente ou entre corpo e alma.

Conhecimento para usar na argumentação

Cada época histórica tem sua concepção do que é o ser humano: o animal político de Aristóteles (384 a.G322 a.C), o ser de corpo e alma inseparáveis de Tomás de Aquino (1225-1274), o ideal de beleza e perfeição de Leonardo da Vinci (1452-1519). Assim, diferentes realidades e formas de conhecimento implicam em diferentes visões do ser humano. A modernidade trouxe enormes ^mudanças nas nossas concepções sobre a natureza, os seres vivos e o nosso organismo. Nesse cenário, a biologia moderna e outros campos a ela relacionados desafiam noções tradicionais a respeito de quem somos, influenciando a filosofia e as ciências humanas. Entre as áreas de maior impacto em tais disciplinas estão os estudos da evolução, a genética, a neurociência e a bioética.
Evolução

texto dissertativo no enem


Como se sabe, as teses de Darwin (1809-1882) são responsáveis por uma verdadeira revolução na maneira como o ser humano vê a si mesmo e a seu lugar na natureza. A espécie humana, tal como as demais, é resultado de um processo de seleção natural, tendo preservado características que, geração a geração, mostravam-se mais bem adaptadas ao ambiente. Outros primatas atuais, como chimpanzés e gorilas, compartilham conosco ancestrais comuns relativamente próximos. Ou seja, da perspectiva biológica, não seríamos, como se quer em certas tradições religiosas e culturais, criaturas especiais na natureza, e sim parte dela, estando sujeitos às mesmas leis e dinâmicas dos outros seres vivos.
Vale lembrar que não apenas algumas religiões consideram o ser humano um tipo de criatura especial. Por exemplo, o racionalista Descartes (1596-1650), considerado pai da Filosofia Moderna, sustentava que o ser humano tinha uma espécie de marca especial do criador. Essa concepção também está presente no senso comum. Quando dizemos que o ser humano destrói a natureza, não deixamos de considerar que estaríamos fora dela.
Contrária à tradição religiosa, a Teoria da Evolução teve um notável sucesso em termos de poder de explicação e foi fartamente corroborada. Há, por exemplo, evidências embriológicas, paleontológicas e genéticas que a sustentam. Mas há fortes movimentos religiosos que buscam refutá-la na esfera pública. Em pleno século XXI, é comum vermos debates entre evolucionistas e criacionistas na mídia dos Estados Unidos.




Mais estimulantes, contudo, são as discussões em torno do uso da Teoria da Evolução para a compreensão de diversos fenómenos sociais e individuais. Por exemplo, muitas teorias da Filosofia procuraram justificar valores morais em termos racionais ou práticos, em substituição às bases religiosas sobre o que seria o certo e o errado. Para o filósofo Immanuel Kant (1724-1804), até hoje um dos mais influentes pensadores sobre questões éticas, as normas morais teriam natureza racional e universal. Atualmente já se pode pensar que comportamentos considerados éticos, como a cooperação sotial, foram selecionados naturalmente. Grupos com indivíduos que agiam coletivamente, a longo prazo, teriam tido mais sucesso adaptativo, o que garantiu sua sobrevivência e a extinção dos que tinham outro comportamento.
Mesmo as escolhas de parceiros sexuais e amorosos, que acreditamos serem decisões pessoais e que dizem respeito à nossa interioridade, teriam forte aspecto evolutivo, pois estariam associadas a maior potencial de sucesso reprodutivo. Por exemplo, a região cromossômica conhecida como complexo principal de histocompatibilidade (MHC, na sigla em inglês), segundo alguns estudos, está envolvida na função olfatória e na escolha de parceiros, o que pode proporcionar descendentes com mais resistência imunológica. As conclusões indicam que, inconscientemente e como forma de garantir a sobrevivência dos descendentes, escolheríamos parceiros com MHCs diferentes dos nossos, ainda que fatores sociais e comportamentais possam ser preponderantes nessas escolhas.
Determinismo e liberdade
Direta ou indiretamente, essa nova compreensão do ser humano tem diversas implicações: uma das maiores diz respeito à noção de liberdade humana. Se o ser humano é parte da natureza, até que

Tecnologia e tecnocracia na redação do Enem

A tecnologia, uma vez constituída globalmente, não se deixa programar livremente pelo homem; ela é que o programa compulsivamente, ameaçando estender o seu domínio ao próprio curso da história. A tecnologia se transforma em tecnocracia, que não consiste no poder pessoal dos técnicos e sim no poder impessoal da técnica, amoldando totalmente o universo em que vivemos. A disseminação da tecnologia nuclear, independente da vontade das grandes potências, dos tratados de não-proliferação atómica, é bem um exemplo do quanto pode o impulso autónomo que dirige a expansão mundial da técnica. Antes que se avalie se é bom ou mau, económico ou antieconômico, moral ou imoral, oportuno ou inoportuno adquirir o controle da tecnologia nuclear, eis que, um depois do outro, os países desenvolvidos ou em desenvolvimento conquistam o domínio do ciclo de enriquecimento do urânio, sem que nada possa ser feito concretamente para impedi-lo. (...)



A lógica dos meios, alimentando-se endogenamente, sem consulta a qualquer fim externo, é lógica perversa que aprisiona o homem num circuito sem saída, dentro do qual ele é compelido a seguir, cegamente, a direçào imposta por um sistema fechado em si mesmo. A lógica tecnocrática dos meios contrapõe-se à lógica da história e da liberdade, que responde essencialmente aos fins últimos do homem, à sua vida, à sua morte, à sua múltipla vocação criadora. Suprimir os fins do homem é o mesmo que inibir sua liberdade e paralisar a história. A lógica dos meios decreta o fim da história, imobilizada e aprisionada nos limites de um circuito insuscetível de renovação.

Questionário para aquisição de conhecimento

1.  Faça o fichamento do capítulo e levante as principais dúvidas.

2.  Considerando que as transformações das técnicas podem provocar novas formas de pensamento, quais são as possíveis alterações da moral sexual a partir do desenvolvimento das técnicas de contracepção (por exemplo, a pílula anticoncepcional)?

3.  Faça uma dissertação com o seguinte tema:
(IMES-SP) "Se me pedissem para mencionar a data mais importante da História e da Pré-história da raça humana, eu responderia sem a mínima hesitação: o dia 6 de agosto de 1945. A razão é simples. Desde o alvorecer da consciência até o dia 6 de agosto de 1945, o homem precisou conviver com a perspectiva de sua morte como indivíduo. A partir do dia em que a primeira bomba atómica sobrepujou o brilho do Sol em Hi-roshima, a humanidade, como um todo, deve conviver com a perspectiva de sua extinção como espécie." (Arthur Koestler.)



4.  Leia a citação de Marcuse (dropes 2) e resolva estas questões:

a)  Por que a alienação no trabalho tende a se alastrar para o tempo de lazer?

b)  Marcuse critica a sociedade alienada que reconhece ser um "risco" deixar o indivíduo "entregue a si próprio". Justifique essa afirmação.

c)  Faça um levantamento de formas de lazer e as classifique a partir dos seguintes critérios:

•  as que exigem imaginação, invenção, participação;
•  as que levam à acomodação e passividade.

5.  Considerando a citação de Baudrillard (dropes 3), resolva estas questões:

a)  O que o autor quer dizer com: "em casa não estou em parte nenhuma"?

b)  Por que quando viajamos "o corpo reencontra seu olhar"?

c)  Explique como a situação descrita pelo autor se refere a um fenómeno típico do pós-modernismo.

6.  Considerando o texto de leitura complementar, de Kujawski, responda:

a)  Como o autor distingue tecnologia e tecnocracia?

b)  O que significa a "lógica dos meios"?

c)  Por que a filosofia é importante para se refletir* sobre a "lógica dos fins"?

Começar uma redação dissertativa

Assim se configura o que chamamos trabalho alienado.
Etimologicamente, a palavra alienação vem do latim alienare, alienus, que significa "que pertence a um outro". Alienar, portanto, é tornar alheio, é transferir para outrem o que é seu.
Ora, se admitirmos que, pelo trabalho, ao mesmo tempo que o homem faz uma coisa também se faz a si mesmo, o trabalho alienado é condição de desumanização, pois os trabalhadores perdem o controle do produto e consequentemente de si mesmos, tornando-se incapazes de atuar no mundo de forma crítica.
A tecnocracia
O desenvolvimento acelerado da técnica cria o mito do progresso. Segundo essa crença, tudo tende para o aperfeiçoamento, mediante a atualização de potencialidades que se encontram em estado latente, embrionário. E, se tudo evolui para melhor, o desenvolvimento da ciência e da tecnologia faria só acelerar esse processo.
A partir de tal concepção, compreende-se como natural a necessidade do aumento crescente da produção (ideal de produtividade); para tanto é estimulada a competitividade (a fim de que cada empresa seja melhor naquilo que produz), bem como a especialização (segundo a qual cada vez mais as grandes decisões são deixadas a cargo de especialistas na área).
Com o passar do tempo, as formas de controle de produção e divisão do trabalho se tornam mais rigorosas, desenvolvendo-se para tanto métodos científicos de ' 'racionalização'' do trabalho, que têm em vista os objetivos já referidos de produtividade, competitividade e especialização.
O mundo da produção assim configurado leva fatalmente à tecnocracia, que significa o domínio dos técnicos e da técnica. Ou seja, na civilização tecnicista e cientificista, a última palavra é sempre dada ao especialista, ao técnico competente.
No entanto, vivemos hoje a crise desses valores. O ideal do progresso inexorável é desmistificado quando constatamos que o desenvolvimento da ciência e da técnica nem sempre vem acompanhado pelo progresso moral. É o que veremos a seguir.
Razão louca e razão sábia



Os tempos modernos surgiram marcados pelo ideal da racionalidade que culminou no Iluminismo do século XVIII. Superando a concepção medieval, centrada na tradição e na visão religiosa do mundo, a modernidade se torna laica (não-religiosa) e busca na razão a possibilidade da autonomia do homem. O desenvolvimento técnico e científico é a expressão do racionalismo dos tempos modernos.
Mas, quando nos referimos à racionalidade da sociedade contemporânea, é bom indagar a respeito de que razão estamos falando. A razão que serve para o desenvolvimento da técnica é a razão instrumental, bem diferente da razão vital, por meio da qual o homem se torna capaz de compreender criticamente a situação em que vive.
Ora, se nunca o homem teve tanto saber nem tanto poder em suas mãos, também é verdade que o acréscimo de saber e de poder não tem sido acompanhado de sabedoria. O homem contemporâneo sabe o que fazer e como fazer, mas perdeu de vista o para que fazer.
O "especialista competente" pode ser o "aprendiz de feiticeiro" que não reflete suficientemente bem a respeito dos fins de sua ação.